Celular, redes sociais, videogame e seriados. O vício nessas plataformas pode ser a ponta do iceberg para questões que já estavam presentes, como: baixa autoestima, ansiedade, depressão, solidão, isolamento, fobia social, timidez, estilo de vida estressante em grandes centros urbanos, podendo causar tanto danos emocionais (como angústia quando não está conectado, dificuldade de concentração, alterações do sono, falta de controle sobre o tempo dedicado à internet, sensação de impotência para resolver os problemas do dia a dia, analfabetismo emocional e reclusão dos sentimentos) quanto danos relacionais (relação familiar, acadêmica, profissional, conjugal e social) e físicos (taquicardia, sudorese, tremedeiras, secura da boca, problemas de postura, sedentarismo, obesidade, subnutrição e problemas de visão por conta da luminosidade da tela). Então, como avaliar o limite de uso da internet? Qual a frequência adequada? Quais os sinais de que está havendo um excesso?
Como a tecnologia está cada vez mais inserida em nossas vidas e, importante frisar, há um tempo relativamente curto, a tendência é que a relação entre homem e internet traga cada vez mais sintomas, porque ainda estamos aprendendo qual a melhor medida, quais os limites e implicações dessa interação. Algumas perguntas que podemos nos fazer para entender como estamos lidando com ela e o quanto impacta a nossa rotina são as que coloquei em seguida. Refletir sobre as suas respostas a elas pode te ajudar a se perceber melhor e pode ser revelador.
– Você se preocupa em estar conectado o tempo todo e, se não estiver, tem uma necessidade exacerbada em ficar online, não conseguindo pensar em outra coisa, ficando triste, irritado ou ansioso?
– Você costuma ficar online para fugir dos problemas, se distrair ou aliviar os sintomas de ansiedade, tédio, impotência ou culpa?
– Você mente para familiares sobre a quantidade de tempo que gasta na internet?
– Você evita atividades presenciais, atividades físicas e interativas por achar esses momentos offline sem graça?
– Você percebe que o seu uso da internet está comprometendo em certo nível as suas relações e contato genuíno com a família, amigos e rendimento no trabalho?
– Você perde a noção do tempo quando está online e fica mais tempo do que havia planejado?
– Você precisa cada vez de mais tempo na internet para obter o mesmo prazer?
– Você já tentou reduzir o tempo nas redes e não conseguiu?
O uso sem controle da internet pode atingir as pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos, e também as diferentes classes sociais. Todos os dias podemos observar o quanto o celular faz parte da rotina e facilita a vida, seja para buscar informações, usar aplicativos, comunicar-se com a família e amigos, ler notícias, compartilhar conteúdos, se expressar, se divertir, falar de si ou dar uma opinião e receber feedback imediato, interagir com pessoas que nem conhecemos, fazer negócios e atualizar-se. É um universo de possibilidades que, se usadas de maneira abusiva, podem atrapalhar e prejudicar atividades da vida offline, fora das redes sociais.
Se você, nos últimos tempos, tem tido problemas/dificuldade para:
– se concentrar para ler um livro;
– focar em apenas uma atividade de cada vez;
– manter o foco sem se perder com distrações;
– ouvir as pessoas com atenção;
– fazer atividade física ou em grupo;
– ter momentos de ócio e contemplação;
– ter autonomia para administrar o seu tempo;
– ter interesse e prazer por conteúdos que não sejam apenas entretenimento;
– cumprir com prazos e obrigações burocráticas do dia a dia, como pagar uma conta, ir ao mercado, cozinhar, organizar a casa, finalizar um projeto, cuidar da saúde;
– experimentar novos hobbies presenciais.
Talvez você esteja gastando muito tempo com distrações e fugindo de emoções ou problemas que não gostaria de enfrentar.
Estados emocionais estão implícitos no uso exagerado da internet/celular. Alguns deles refletem:
– Tentar suprir algo, um vazio, uma falta (pode indicar que a pessoa tem uma carência afetiva, dificuldade de lidar com o luto ou sente-se solitária);
– Lidar com sentimentos negativos, buscar apoio emocional (talvez a pessoa não tenha apoio na família; sente-se incompreendida e não ouvida; sente-se angustiada com alguma coisa, mas não consegue nomear direito o que está sentindo; precisa de ajuda e orientação emocional; sente-se insegura; e não sabe como a sua psique funciona nem como resolver as suas questões);
– Fugir dos problemas, das perdas e dos sentimentos ruins (pode estar sentindo tristeza, solidão, ambivalência, irritação, estresse, ansiedade, agressividade, desespero, impaciência ou abandono e busca distrações na internet para diminuir o sofrimento);
– Colocar para fora as emoções e pensamentos reprimidos, postando desabafos ou se expondo de forma narcisista (talvez essa pessoa não consiga ser como ela é na vida, e então compensa nas redes; pode ser vulnerável e dependente de aprovação externa; ou pode criar uma personagem para ser aceita);
– Lidar com a timidez (essa pessoa busca liberar aspectos da sua personalidade que não consegue na vida presencial; pode ter medo exagerado, insegurança, baixa autoestima, busca fugir da realidade, tem dificuldade em enfrentar o desconhecido ou quer ter o controle);
– Buscar controlar e acompanhar a vida dos outros, seja um familiar, o parceiro ou ex-parceiro, pessoas públicas (pode indicar um apego desproporcional, a dificuldade de lidar com os rompimentos e ciclos da vida, a dependência emocional, o ciúme exagerado, a falta de interesse pela sua própria vida, a baixa autoestima e a incapacidade de ficar sozinha e de aceitar os momentos de tédio e ócio).
Reconhecer esses estados emocionais pode ser difícil, mas super necessário para se conhecer melhor e desfazer hábitos e comportamentos que afetam a relação com a família, o casamento, o namoro, os estudos, os projetos e a qualidade de vida.
Texto de BRUNA L. PROCHNOW – Psicóloga Clínica – CRP 06/140066