Conforme convivemos com uma pessoa, vamos percebendo a forma com que ela lida com a vida, com as experiências, com os desafios, com as pessoas e consigo mesma. Da mesma forma, ao longo da vida, vamos nos conhecendo também, percebendo quais são as nossas preferências, o que nos estimula, o que nos deixa aborrecidos e com quais situações lidamos melhor. Algumas pessoas irão pensar mais antes de agir, outras poderão ser impulsivas; algumas terão mais facilidade de falar sobre si mesmas, outras poderão travar nessa hora; algumas serão mais intuitivas, outras mais práticas; umas mais organizadas, outras com maior dificuldade de seguir uma rotina; algumas mais acolhedoras, outras mais reservadas; algumas irão analisar os problemas de uma forma mais ampla, outras mais pontualmente, sem considerar todas as variáveis; umas serão mais conceituais e lógicas, outras irão seguir o coração.
A personalidade, então, tem uma infinidade de características e combinações que podem ser agrupadas em atitudes (introversão e extroversão) e em funções, que são formas de julgar e perceber o que acontece ao redor e internamente. O julgamento e a percepção são os norteadores nos quais nos baseamos pra tomar decisões, avaliar o que é bom e o que é ruim, definir qual estilo de vida queremos ter, quais pessoas preferimos ter por perto, que tipo de trabalho nos estimula, quais assuntos nos interessam mais, quais valores nos movem e qual o sentido da vida para nós. Todos temos duas funções que desenvolvemos mais ao longo da vida e duas que são menos usadas. Conhecer os tipos psicológicos não traz certezas, até porque vamos mudando algumas características ao longo do tempo, mas pode dar pistas sobre qual o nosso jeito de ser e, assim, permitir que sejamos capazes de perceber com maior sensibilidade a forma como as outras pessoas se comportam, ajudando, por exemplo, na convivência com personalidades diferentes e possibilitando lidar melhor com os conflitos. Basicamente, há 4 funções: intuição, sensação, sentimento e pensamento.
Para ter uma compreensão completa sobre o seu tipo psicológico é preciso considerar, num todo, a atitude (extroversão ou introversão), e as funções principal e auxiliar que você utiliza no dia a dia para tomar decisões, se relacionar, compreender e resolver as situações. Aqui vou falar bem brevemente sobre algumas características de cada tipo considerando apenas a função principal, ou seja, aquela que mais influencia no comportamento ao longo da vida.
Então, vamos lá! As pessoas com função principal:
– Intuição: tendem a considerar as situações globalmente, considerando os diferentes âmbitos de uma mesma situação; costumam ter um faro apurado para perceber questões mais subliminares, apreendendo realidades sutis e conseguindo ter sacadas e lidando bem com o futuro; são aquelas pessoas que consideramos místicas e inventivas ou até inovadoras, por se basearem nos seus valores, enxergando além do óbvio.
– Sensação: são aquelas pessoas que a gente conhece como “pés no chão”. Elas são práticas, lidam melhor com o mundo concreto, são pragmáticas e costumam não pensar muito antes de agir. Propensas a serem organizadas, detalhistas e atentas ao ambiente.
– Sentimento: tendem a ser empáticas, acolhedoras, sensíveis, dando bastante atenção e importância às relações interpessoais. Por isso, conseguem ser conciliadoras e tolerantes, criando uma conexão forte com quem convivem e dando prioridade às relações humanas.
– Pensamento: têm grande capacidade analítica e de abstração, fazendo uso predominantemente da razão e da lógica para compreender e resolver as situações, fazendo correlações, deduções e induções; tendem a ser pragmáticas e profundas em suas análises.
Procurar reconhecer os aspectos inconscientes que influenciam nosso comportamento é super importante para que não projetemos nas pessoas e situações aquilo que não vemos em nós. Embora o comportamento humano seja uma miscelânea de diversas variáveis, condicionantes e possibilidades e, portanto, imprevisível e multifatorial, algumas classificações e tipificações podem nos ajudar a tornar os nossos aspectos sombrios mais compreensíveis e tangíveis, facilitando a estruturação de um olhar mais integral e maduro sobre nós mesmos. Saber o seu tipo psicológico, ou seja, os comportamentos que você tende a ter, além de revelar as suas potencialidades, facilidades, talentos e propensões, também ajuda a perceber aquilo que não é tão bacana assim e que defensivamente não consegue enxergar. Vou falar dos pontos cegos dos 4 tipos, começando pelo tipo psicológico intuição. Os tipos intuitivos são aquelas pessoas que leem as entrelinhas, farejam o invisível, têm uma visão ampla a respeito das coisas. Mas, em contrapartida, assim como os outros 3 tipos psicológicos (sensação, sentimento e pensamento), o intuitivo tem alguns pontos a serem observados caso busque um autoconhecimento mais integral da sua personalidade e lidar melhor com as situações sem ficar unilateral em seus comportamentos. Alguns pontos de alerta para o tipo intuitivo são: podem ter dificuldade para lidar com rotinas, horários, localização espacial, justamente porque são mais aéreos e focados em questões abstratas; por terem insights que as outras pessoas não têm e enxergarem as situações de forma mais abrangente, tendem a buscar convencer os outros de seu ponto de vista, podendo ser teimosos e irredutíveis; por estarem mais conectados aos aspectos espirituais, podem ser desatentos em relação aos fatos concretos, podendo ter uma falta de tato para lidar com o dia a dia, burocracia, padrões sociais, formalidades, podendo se mostrar inadaptado ao ambiente, apresentando uma certa confusão para se organizar e se expressar; por ser mais fluído e flexível, pode desconsiderar hierarquias e ignorar métodos e caminhos definidos, pois prefere seguir os seus valores. Lembrando que essas são apenas tendências de comportamento.
O tipo psicológico sensação são aquelas pessoas que se pautam nos órgãos sensoriais para perceber, assimilar e interpretar o ambiente e lidar com as situações. Elas são realistas e focadas no aqui-agora, tendendo a ser bastante literais. Então, sendo mais pragmáticas e objetivas, podem ter uma necessidade de controle e checagem excessiva, tornando-se meticulosas e rígidas no dia a dia; por serem mais formais e materialistas, podem desconsiderar aspectos simbólicos, ficando muito conectadas apenas ao que é tangível e observável; por serem pé no chão e gostarem mais de lidar com coisas concretas, podem acabar fazendo análises reducionistas das situações, desconsiderando aspectos subjetivos. Lembrando que essas são apenas tendências de comportamento.
As pessoas do tipo psicológico sentimento são aquelas que priorizam as relações, são acolhedoras e amistosas, tendendo a ser carismáticas e agregadoras. Um ponto de alerta para esse perfil é a questão da simpatia e da abertura exageradas que podem surgir no contato com as pessoas. Dependendo da situação, essas posturas podem ser desnecessárias ou descontextualizadas. E sendo mais passionais, as pessoas do tipo sentimento podem se tornar vulneráveis às emoções, tomando decisões e tendo atitudes injustas ou desarmônicas, justamente por não terem pensado antes de agir; também podem ser manipuladoras, usando a empatia e carisma para influenciar as pessoas conforme seus interesses; tendem a esperar que as outras pessoas sejam atenciosas e tolerantes como elas são e quando percebem que não há reciprocidade, podem adotar um comportamento de vitimismo; tendem a ser mais intensas por serem sensíveis às emoções, podendo ter comportamentos baseados em extremos, como adotar posturas e pontos de vista de intolerância preconceituosa ou de tolerância abusiva. Lembrando que essas são apenas tendências de comportamento.
O quarto e último tipo psicológico: pensamento. As pessoas desse tipo são racionais e analíticas, fazendo avaliações lógicas e abstratas das situações para lidar com a vida. Por conta disso, precisam estar atentas aos pontos cegos de sua personalidade para não se tornarem excessivamente impessoais e engessadas, presas aos fatos e desconectadas das relações com as pessoas. Além disso, por serem bastante críticas, podem desenvolver um nível de perfeccionismo que as impede de concluir as atividades, ou até mesmo de começá-las, por exigir uma qualidade idealizada. Também podem se apegar a métodos e explicações técnicas que trazem uma rigidez imprópria para a fluidez e a espontaneidade genuínas do cotidiano. Além disso, por se basearem na razão para perceber e avaliar os acontecimentos e relações, podem desconsiderar questões que não sejam mensuráveis e tangíveis, deixando de pensar em uma perspectiva mais ampla e simbólica das situações. Lembrando que essas são apenas tendências de comportamento.
Texto de BRUNA L. PROCHNOW – Psicóloga Clínica – CRP 06/140066